quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sobre o cuidado com ruas movimentadas


Sabe quando você está andando em uma rua bem movimentada? Gente, informação, barulho. Tem alguém na sua frente. Mas a curta distância, apenas para manter um mínimo de espaço. Você está bem atrás. Vocês andam no mesmo ritmo, com passadas iguais.
Mas aí, acontece alguma coisa e a pessoa para de uma vez, sem te avisar, sem que você esteja esperando. Ela não dá nenhum sinal de que está cansada ou com algum problema no sapato que dificulte o caminhar. Ela para sem planejar, sem informar, sem aviso prévio.
Você, que continuava avançado, se assusta. É necessário frear de uma vez. Uma parada brusca que interrompe seu trajeto minimamente organizado, bem traçado.  E mais: você precisa fazer um esforço tremendo para não cair, não se machucar e nem ferir os que, por alguma razão, estão em torno de vocês e podem sofrer por consequência.
Você para. Esse tempo parado é incalculável porque depende de muitas variáveis. Depende de quanto tempo essa pessoa permanecerá estagnada na sua frente, se ela voltará a andar, se voltará a andar com você ou escolherá outros caminhos. Depende também do incentivo de quem precisa, de alguma forma, que você volte a se movimentar.
Você volta. Sempre volta. Talvez o começo seja difícil, porque reiniciamos em um ritmo lento. Demora um pouco para voltarmos a velocidade máxima.  Algumas vezes é necessário um impulso a mais para contornar essa pessoa que continua parada. Você precisa seguir, tomar um novo fôlego, reconquistar o ânimo perdido, traçar novas metas, recalcular rotas.
É uma retomada complicada.
Com forças renovadas, vem uma nova fase. Simplesmente não existe ninguém na sua frente. Você pode fazer qualquer trajeto, andar mais para a direita ou mais para a esquerda, alternar o ritmo. Você escolhe.
Essa liberdade não tem tempo definido. É impossível saber quanto vai durar. Tudo vai depender de quando uma nova pessoa vai virar a esquina e, sem você perceber ou permitir, vai entrar no seu caminho e fazer tudo recomeçar.

Caminhadas, trombos, recomeços. Talvez isso seja sobre os cuidados com ruas movimentadas. Talvez seja sobre a vida.